Um estudo da Fundação Getulio Vargas, que investigou como as empresas consideram o fator diversidade na hora de contratar fornecedores, constatou que entre as 109 empresas analisadas apenas 15% contam com programas voltados para contratar fornecedores de propriedade de grupos socialmente subrepresentados: mulheres, afrodescendentes e LGBTs.
Conduzido pelo Centro de Excelência em Logística e Supply Chain (FGVcelog), em parceria com o Núcleo de Estudos em Organizações e Pessoas (FGVneop), o objetivo do estudo era identificar a participação de negócios liderados por mulheres, e outras minorias subrepresentadas, na cadeia de suprimento de grandes empresas no Brasil. Além disso, a pesquisa também mapeou as principais barreiras enfrentadas para que essas empresas possam se engajar em compras afirmativas.
À frente deste estudo, a pesquisadora Priscila Miguel destaca que na atualidade o mundo corporativo fala bastante sobre ESG, ou seja, a governança ambiental, social e corporativa. Porém, muitas vezes o setor de compras não compreende e internaliza este conceito tanto quanto os outros setores de uma organização.
“Tanto aqui no Brasil quanto em outros países, a gente vê a pauta de ESG crescendo entre as organizações e muito associada a diversidade, equidade e inclusão, por isso queríamos entender se este crescimento também ocorre na área de compras dessas organizações, e percebemos que há um longo caminho a ser percorrido”, disse a pesquisadora, que reitera a necessidade de as empresas compradoras reverem seus processos e flexibilizarem as políticas de compras que costumam ser desenhadas para grandes empresas, priorizando apenas os lucros em detrimento do contexto social.
Compras inclusivas e fornecedores de diversidade
As compras inclusivas caracterizam a habilidade de uma organização desenvolver e implantar métricas que contemplem critérios de inclusão social em suas decisões de compras. Para que o setor de compras de uma empresa possa ser considerado inclusivo é necessário que 51%, ou mais, da propriedade das empresas fornecedoras pertençam a grupos sociais ou minorias subrepresentadas.
“Geralmente são pequenas empresas com difícil acesso em competir de igual para igual com empresas maiores”, pontuou Priscila Miguel. Segundo a pesquisadora, esses fornecedores também são capazes de evidenciar essas minorias enquanto consumidores.
“Quando uma empresa contrata fornecedores mulheres e de outras minorias, esta empresa pode aprender de forma mais particular sobre demandas específicas da sociedade, em comparação com outros fornecedores mais amplos e homogeneizados. Esses fornecedores representados por minorias também podem ser fonte de inovação e flexibilidade, gerando desenvolvimento socioeconômico para comunidades, além de combater a desigualdade social”, aprofundou a pesquisadora.
Entendendo o estudo
Priscila, que desenvolveu o estudo junto as pesquisadoras Maria José Tonelli, da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (FGV EAESP) e Andrea Lago da Silva, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), contextualiza que o interesse em realizar essa pesquisa surgiu a partir de uma inquietação da ONU Mulheres que possui diversas empresas signatárias comprometidas com os princípios de empoderamento feminino. Essas empresas atuam para que as organizações comprem mais de fornecedores liderados por mulheres, visto que entre as próprias signatárias, menos de 1% de seus fornecedores são provenientes de empresas lideradas por mulheres.
Foi a partir deste cenário, que o FGVneop, o FGVcelog e a ONU se uniram com o objetivo de dialogar com empresas e fornecedores, a fim de entender o que ajuda a implementar os programas, em qual estágio as empresas estão, entre outras questões. A partir da análise de 21 entrevistas realizadas, foram evidenciados alguns pontos relevantes para promover essa inclusão, como por exemplo: a importância da certificação para as organizações que realizam compras inclusivas como forma de incentivar a prática, e a necessidade de o Brasil contar com uma Política de Inclusão específica para o setor de compras.
“Na maioria das vezes, quando há inclusão de minorias entre os fornecedores, isso costuma ocorrer de forma voluntária entre as empresas que estão no contexto da ESG”, pontuou Priscila.
A pesquisadora ainda ressalta que em países como EUA, Reino Unido, Canadá, e Austrália existem programas de inclusão parecidos, também voltados para outros grupos de minorias sociais como imigrantes, negros e aborígenes.
O estudo conquistou uma menção honrosa no Prêmio de Projetos de Impacto da FGV EAESP.